Monday, April 18, 2011

Poetry School

[from João Cabral de Melo Neto's O engenheiro, 1945]

1.

All morning staged
like a stalled sun
on the blank page:
alpha world, new moon.

Still, you couldn’t pen
a line; not a name,
a blossom even
on table’s summer:

nor at brightest noon,
every day paid for,
paper able to spawn
any and all worlds.

2.

The poet all hours
at his table, keen
to birth the monsters
his inkpot seeds.

Bugs, monsters, phantoms
of words, they float,
urinate on paper,
spoil it with smuts.

Smuts of pencil, smuts
of conceits, smuts of
dead feelings, smuts
gobbled by dreams.

3.

The poet avoids the blank
struggle with paper,
blank struggle where
his briny veins run red.

Fear’s physics realized
in daily actions; fear
of things never stilled
only stalled – live beings.

And the 20 words pooled
in the poet’s brine
are the poet’s tools
in his fine machine.

The same 20 words always
– their utility, clarity,
their gravity – he knows
are less than air.


A lição de poesia

1.

Tôda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da fôlha em branco:
princípio do mundo, lua nova.

Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.

2.

A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sôbre o papel,
sujando-o com seu carvão.

Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.

3.

A luta branca sôbre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.

A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis – naturezas vivas.

E as vinte palavras recolhidas
nas águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.

Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.